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Será a vida na Antártida capaz de se adaptar ao aquecimento global? Uma “viagem” com o investigador Pedro Guerreiro

A paisagem inóspita da Antártida e tudo o que a ela diz respeito sempre maravilhou o comum dos mortais. Pedro Guerreiro, professor e investigador do CCMAR e da Universidade do Algarve passa dois meses do ano numa das regiões mais frias do nosso planeta a estudar a evolução e a capacidade de resposta dos organismos vivos às alterações climáticas.  

Apoiado pelo Programa Polar Português – PROPOLAR, o biólogo marinho participa na Campanha Antárctica Portuguesa naquele que é considerado “um continente para a paz e para a investigação”. Foi para falar de tudo isto que Pedro Guerreiro esteve entre os alunos de Ciências do 10.º, 11.º e 12.ºs anos. 

Durante dois meses de Verão, estuda alterações bioquímicas, flexibilidade fisiológica e respostas a comportamentos em várias espécies, sobretudo peixes. Contudo, realça, “o facto de conseguirmos verificar como é que determinada espécie se ajusta a um período, não nos garante que o seu comportamento se mantenha, uma vez que as condicionantes se alteram”. “Uma vez que as bactérias e as moscas da futa se reproduzem a uma velocidade muito elevada, os estudos destes seres vivos levam-nos a resultados rápidos, em pouco tempo, mas é sempre difícil perceber o que vai acontecer aos peixes da Antártica”, refere.  

O investigador explica que não existem, neste continente, peixes de água doce e que os existentes são sobreviventes de uma das extinções em massa. Os poucos, por radiação adaptativa, derivaram em muitos. Encontram-se identificadas 200 espécies de peixes e, apesar de serem bastante diferentes uns dos outros, provêm da mesma linhagem evolutiva. 

O local mais isolado do mundo esconde debaixo da sua alta camada de gelo, terra, rios e lagos subglaciais, onde já foi encontrada vida a 2.000 metros de profundidade. “E podemos encontrar fundos marinhos cheios de vida, muitas vezes mais ricos que os nossos ambientes subaquáticos, com algas, musgos, bivalves, crustáceos, esponjas, ouriços e estrelas-do-mar…”. Afinal, há 200 milhões de anos, a Antártica era um local de florestas subtropicais. Os fosseis encontrados revelam paralelismos com os continentes da América do Sul e da Nova Zelândia, refere, que se terão separado aquando da deriva continental.

Porém, também aqui, os investigadores vão registando uma diminuição das colónias, e não só de pinguins. É um facto que segundo Pedro Guerreiro, se encontra muito relacionado com o aumento da temperatura. Diante da inegável realidade de que o mundo se encontra a cada dia mais quente, preocupa-o o degelo e o que poderá acontecer com a Gronelândia. “Nos últimos 100 anos o nível do mar aumentou 20 centímetros”, refere. “E sabemos que o degelo é um ciclo de feedback positivo, não volta atrás.”  

Neste local da terra todas as espécies dependem muito de dois recursos: as algas marinhas, no verão, e o krill.  “As baleias dão à luz nas Caraíbas e levam as suas crias até à Antártica para poderem alimentá-las com krill”, uma espécie que se encontra já ameaçada pela sobrepesca. Mas este é também o alimento preferido das focas, dos pinguins e da andorinha-do-mar-Ártico, que chega a viajar 31 mil quilómetros para chegar à Antártica.  

Em campo, chegou a estar sujeito a temperaturas de 17 graus negativos, temperaturas de Verão, mas no Inverno, a Antártica já registou um record de -92 graus, mais frio que as arcas de ultracongelação (-80 graus). A sua pesquisa é fundamental, entre outros aspetos, para ficar a conhecer de que forma os recursos marinhos poderão, no futuro, ser aproveitados, por exemplo, na alimentação humana. 

Pedro Guerreiro encara, por isso, com ânimo e experiência realidades duras: exposições a temperaturas negativas, situações adversas, como as tempestades e a inexistência de hospitais, a uma distância de pelo menos seis horas.  

Chegar também não é fácil. A longa viagem de avião até ao sul do Chile é sempre preparada com muito rigor, contando com todas as coadjuvantes. É uma viagem que pode custar 70 mil euros. Esperam-no, depois, outro percurso de avião até às ilhas, ou uma viagem de quatro dias, de navio, através do Estreito de Drake. 

Como Portugal não tem base própria (ou navio de investigação) na Antártica, os restantes lugares do voo são oferecidos a equipas estrangeiras, que alojam depois a equipa portuguesa. Pedro fica muitas vezes alojado na base polaca, onde se encontra o farol mais a sul do mundo, a cerca de 12.000 quilómetros de Faro. Mas outros países, como a Coreia, a China, os Estados Unidos, Reino Unido, a Rússia, o Chile, a Alemanha ou o Brasil (entre muitos outros) dispõem de bases neste continente. 

Para além da paixão científica que o move, deste continente inóspito ficam-lhe “os animais”, “a paisagem esmagadora”, “um céu limpo, impressionante”.