Pontilhismo regressa à vida da ex-aluna Maria Oliveira
Como uma técnica aprendida no 5.º ano nas aulas de Artes se transforma numa vocação
“Nostalgia” é a palavra que emprega para descrever o que sente no momento em que os portões se abrem. Maria Oliveira deixou o CIV em 2008 e seguiu os seus estudos no ramo das Artes. Hoje regressa para reviver memórias. Professores e staff recordam-na “pelo seu inigualável sorriso” e contam histórias das “irmãs gêmeas”, Maria e Beatriz, e de quão difícil era distingui-las.
“Guardo com muita felicidade as aulas de Filosofia para Crianças, com a professora Maria da Luz, e algumas dinâmicas ligadas à Filosofia, em Formação Cívica. Fazíamos debates, refletíamos…”, revive Maria. “No Jardim de Infância”, acrescenta, “recordo-me de, através das fábulas, falarmos do que era a Justiça, do que era o Amor… Gostava muito dessas aulas e acredito que me ajudaram muito.” De que forma? – questionámos. “Hoje tenho uma grande facilidade em argumentar; foi algo que senti de forma muito marcada na universidade e penso que teve origem aqui”, responde.
Enquanto discorre pelo passado, Maria esboça um sorriso largo. “Tenho memórias maravilhosas dos convívios em St. Julian’s, Carcavelos. Pertenci ao Clube de Basquetebol durante muitos anos, com o professor Carlos Alemão, e não falhei nenhum ano este torneio em que as raparigas jogavam basquete e os rapazes, futebol. Era um convívio entre escolas muito giro. Apesar de haver muita competição nos jogos, senti sempre muito carinho”, recorda.
Este evento do calendário escolar ganhava particular importância por constituir dos únicos momentos do ano académico em que Maria se separava da sua irmã gêmea, Beatriz. “Enquanto eu gostava de Desporto, ela preferia Teatro ou o Eco Clube”, explica.
Mas ao longo do seu amadurecimento, a sua apetência pelo Desporto foi substituída pela Comunicação e pelo Design. Ao terminar o ensino secundário, Maria Oliveira fez a sua formação em Artes e Design no IADE (Faculdade de Design, Tecnologia e Comunicação), estagiou no Politécnico de Milão (em regime de Erasmus), e acabou por especializar-se em design gráfico e fazer uma Pós-graduação em Design Thinking (sistemas e metodologias de organização do processo criativo).
Desde então, tem trabalhado como organizadora de eventos, designer gráfica e nas áreas da comunicação e social media. A pandemia veio, contudo, mudar-lhe o rumo. Na altura a liderar uma equipa como designer gráfica para o Algarve, na Zoomato, viu o departamento encerrar. O regresso ao Algarve foi inevitável. “Por uma questão quase terapêutica, comecei a ilustrar, a sair do desenho gráfico, do computador, e a voltar a outros materiais”, conta.
“Desenhei durante muitos anos, mas isso estava um pouco perdido. Para me distinguir, escolhi uma técnica que aprendi no colégio, no 5.º ano, com o professor João Espada: o pontilhismo. Lembro-me de ter experimentado na altura e de ter pensado: ‘eu nunca vou conseguir…, porque é muito detalhado…’”, recorda.
A ex-aluna considera curioso que, após tantos anos sem pintar, esta técnica lhe tenha surgido quase intuitivamente. “Adotei papel e caneta e decidi destacar-me pelo preto e branco, porque se entende melhor o jogo de luz e sombra.” O seu trabalho de ilustração depressa ganhou visibilidade e Maria Oliveira criou a sua marca: Mary Berry.
Recentemente, a convite do município de Albufeira, onde reside, a artista inaugurou um mural de 300x200 de homenagem a um pescador local no Espaço multiusos da Associação dos Profissionais da Pesca de Albufeira (APPA). “Retratar não é apenas desenhar, é conseguir passar um momento da memória. Perpetuar a memória… isso é especial”, refere.
Para além da ilustração, Maria Oliveira continua a trabalhar na área das artes, com crianças de 1.º Ciclo. Tira daí uma grande satisfação pessoal, porque trabalha com o papel transformador da arte e que “toca sempre o lado psicológico, o lado emocional”. “Se houver humildade para aprender, também há espaço para ensinar”, refere.