“Felicidade é chegar a casa e sentir que fiz os outros felizes”
Os professores recordam um aluno “com um grande sentido de justiça”, “aparentemente sem dúvidas, e com uma constante avidez por conhecer sempre mais”. “Ser um bom aluno” sempre foi uma das suas prioridades e chegar um dia a advogado acompanhou todas as fases do seu percurso. Por isso, quando em 2012-2013 terminou os seus estudos no Colégio Internacional de Vilamoura, foi com grande entusiasmo que abraçou o percurso académico na Faculdade de Direito da Universidade de Coimbra.
Hoje com 26 anos, e a exercer a profissão desde 2018, Tobias Hamann considera-se “uma pessoa satisfeita com os resultados alcançados.” Sentado numa das mesas do Bar do CIV, numa conversa entrecortada pelo entusiasmo dos professores que passam e lhe oferecem o cumprimento que a pandemia permite - o ex-aluno faz uma viagem no tempo. “São memórias bonitas”, diz, o rosto a refletir situações passadas.
A consistência do projeto educativo
“Guardo muito boas recordações dos 12 anos que passei nesta ‘casa’”, refere. “Os meus pais nunca tiveram qualquer dúvida de que este fosse o local certo para estudarmos porque observamos sempre métodos educativos exemplares, de excelência, quer nos recursos humanos, nos professores, quer ao nível técnico e no projeto educativo, que foi muito consistente”, adianta. “Algo que - do que vejo nas redes sociais e que, agora que aqui voltei, se me afigura patente - continua a ser uma prioridade e aposta contínua do CIV que, mais do que acompanhar as diretrizes ou políticas em matéria de educação, parece estar à frente do tempo.”
O ex-aluno guarda com especial carinho os projetos anuais (um dos aspetos do currículo do CIV que tem como objetivo estimular o aluno que pensa e questiona o conhecimento ao seu redor). “Fomos motivados, desde muito cedo, a explorar a nossa vertente criativa, eminentemente prática, sobretudo após o 5.º ano. Os projetos anuais são uma forma muito eficaz de promover o perfil criativo do aluno. Temos que concentrar-nos num tema específico, desenvolvê-lo minuciosamente, discuti-lo criticamente, com orientador, e, por fim, apresentá-lo em frente a toda a turma, obrigando-nos a sair da nossa zona de conforto…”, recorda. Enquanto voga entre os temas abordados ao longo dos anos: Música, História, Património Cultural de alguns países…, realça que foi sua escolha apresentar a maior parte dos projetos anuais na disciplina de Francês. “Aproveitei sempre esta mais valia linguística proporcionada pelo CIV. Considero que as línguas são chave para o sucesso ao nível profissional, seja em que área for.”
“Não fossem estes projetos”, assume, “teria tido muito mais dificuldade em realizar projetos universitários. Ainda hoje, as competências trazidas pelo projeto anual me facilitam na estrutura dos ‘legal memos’ que faço no trabalho para o cliente”, reforça.
O apelo da Advocacia
Quando se fala em resultados, mostra sempre um certo brilho no olhar. “Sempre me esforcei por ser um bom aluno”, confessa. “Foi sempre para mim uma prioridade, não porque me tivessem obrigado a sê-lo, mas porque me motivavam a sê-lo.” Entre a área das Ciências-Medicina (com a qual confessa não se identificar muito) – e a possibilidade de se tornar advogado, nunca houve dúvida e no 9.º ano fez as suas escolhas com segurança.
“Passei do secundário para a faculdade de forma fluida, como se não tivesse existido qualquer interrupção, com continuidade e conforto. Até porque o Secundário havia sido bastante exigente”, recorda. “Mas”, realça, “eu e muitos dos meus colegas nunca tivemos que recorrer a explicações extracurriculares, porque as aulas, em si, e o apoio fora das mesmas, era mais do que suficiente para poder realizar os exames nacionais com bons resultados”.
Em Coimbra, na Faculdade de Direito, veio a comprovar que “toda a teoria é o substrato necessário para que nos possamos sentir confortáveis na prática.” Conseguiu um 17 como nota final (Bacharelato), estávamos em 2017. Em julho de 2020 apresenta, na mesma Universidade, um Mestrado Científico em Ciências Jurídico-Empresariais/Menção em Direito Empresarial: “O new deal da sociedade em comandita em Portugal”, no qual se distingue com 18 valores.
Os resultados falam por si, a provar que o desejo de ser um bom aluno seguiu vida fora. Assim foram surgindo as distinções: “Prémio Doutor J.J. Teixeira Ribeiro”, pelas mais altas classificações obtidas na área das Ciências Jurídico-Económicas (2013-2014); Prémio "3% dos melhores estudantes" (2014-15); Prémio Escolar “Doutor Marnoco e Sousa” e Prémio "3% dos melhores estudantes" (2015-2016); Prémio "3% dos melhores estudantes" (2016-2017) e Prémio Escolar “Wolters Kluwer Portugal” (2017.05.12).
O mercado de trabalho e a gestão do tempo
Mas desengane-se quem seja levado a pensar que os resultados académicos são fruto de uma entrega exclusiva ao estudo. Garante ter passado “70 por cento do semestre a festejar”. Afinal, “para quê ser excelente aluno se uma pessoa não aproveita a vida?” – questiona. “Não fossem os 70 por cento de vida boémia, não teria tido a mesma motivação para continuar a ser um aluno excelente; e ser bom aluno também nos permite festejar melhor, com mais alegria. Por outro lado, a alegria permite-nos ter motivação para estudar muito.” (risos)
Foram os resultados que lhe abriram a entrada no mercado de trabalho. “Ainda antes de terminar o mestrado, comecei a trabalhar na Faculdade, como assistente, na área de Direito Societário. No meu último ano de mestrado comecei a trabalhar como estagiário no quadro efetivo da PLMJ”, a sociedade de advogados mais referenciada pelos media nos primeiros meses de 2021. Foi, na verdade, um convite para regressar, uma vez que Tobias Hamann havia já feito um estágio de verão naquela empresa, em 2017.
A área do Direito Empresarial (cadeiras que mais interesse suscitaram no aluno e nas quais alcançou melhores resultados) continua a ser a sua favorita, mas o seu dia a dia é composto por uma diversidade de problemas jurídicos, quer abordam temas “quer ao nível do urbanismo, mobiliário, fiscal, penal.” “Felizmente - e infelizmente -, trato de todos esses assuntos”, justifica. “O cliente acaba por exigir que nos tornemos um especialista nessas áreas. E isso exige uma dedicação a 100 por cento, o que pode implicar dez horas de estudo do caso, horas que não podem ser registadas ou faturadas, na medida em que o cliente pressupõe que sejamos especialistas na área. O que gosto mesmo, contudo, são as matérias societárias e nessas, sim, considero-me especialista.”
O dia a dia de um advogado
Indagámos como é o seu dia a dia. “Acordo às sete horas, estou no escritório às 8, e gostaria de considerar que trabalho até às 18 horas. Mas, na verdade, trabalho até às 21, 22 horas; com exceções, há dias em que saio às 17, e outros em que saio às 02 da manhã. O trabalho na advocacia, infelizmente, não conhece horários.” No pouco tempo que rouba a esta escala de exigência, Tobias Hamann gosta de “fazer desporto, sair com os amigos, jantar fora, conviver.” O segredo parece sempre estar numa palavra: gestão. “No último ano e meio tenho conseguido conciliar a vertente pessoal e profissional, de forma muito boa e saudável, mas reconheço que existem pessoas que exigiriam mais tempo e dedicação à vida pessoal.”
E, no meio dessa vida, “o que é a felicidade?”, questionamos. “(sorriso) Felicidade é chegar a casa depois de um dia de trabalho em que as horas foram bem aproveitadas, e o resultado foi positivo, e ter a noção de que fiz um trabalho reconhecido. No fundo, chegar a casa e sentir que fiz os outros felizes. Fico feliz quando as pessoas se sentem felizes, respeitadas…. Sento-me no sofá e sei que o dia correu bem. Uma pessoa dorme feliz.”
Afinal, assume, “hoje, o reconhecimento já não é dado pelas notas, mas pela felicidade que o cliente revela ao ver o caso bem tratado ou resolvido. Isso, sim, deixa uma pessoa feliz. Isso, e a família, a vida emocional e afetiva também contribui para alimentar esse quadro de felicidade.”
E quando os resultados são negativos? - perguntámos. “Ter resultados positivos é imprescindível”, reitera, confessando-se “muito teimoso e orgulhoso”. “Depois da tentativa de solucionar o problema, fica aprendizagem”, acrescenta.
Sonhos…
Tobias Hamann tem como referência as máximas que o ajudam a “aprender a lidar com a frustração”, mas também algumas pessoas, como o professor José António Gonçalves, “pela força e motivação que me ofereceu, pelo seu lado humanista e pela forma como conseguia cativar uma turma inteira, dos mais atentos aos mais rebeldes.” Mas a maior referência será talvez a família, à qual Tobias Hamann se refere como “a minha âncora”.
Daqui a cinco anos, o ex-aluno terá 31 anos. Espera, na altura, ter chegado ao lugar de associado sénior no escritório, e ter uma família. “Família é uma prioridade para mim. Mas, para o efeito, tenho que estar muito estável, consolidar o meu trabalho. E, depois, sim, solidificar a minha família. Em Portugal, sempre. É o meu país de eleição.” Porquê? – questionamos, tendo em linha de conta as suas raízes alemãs. “Primeiro, porque cresci aqui”, refere, “e depois, porque me identifico com a forma de pensar do povo português. Sinto-me em casa, respeitado. É um país muito aberto, e onde nunca me senti estrangeiro!”
O ex-aluno sonha um dia reformar-se aos 55 anos “e cuidar de uma plantação de cinco ou seis hectares onde observe o resultado a crescer. Um hobby. Gosto da ideia de ter algo orgânico, algo ligado à terra… No meu trabalho acabamos por perder um pouco a ligação ao que é real.”